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O LEITE DERRAMADO E O CHICOTE FLORENTINO: MEMÓRIA E AUTORITARISMO EM UM ROMANCE DE CHICO BUARQUE

 

Gabriel Cordeiro dos Santos Lima

 

O presente artigo busca identificar e interpretar a presença da ditadura militar brasileira no romance Leite Derramado, de Chico Buarque. Para tal, enfoca as passagens da narrativa em que o período é trazido à tona, dedicando-se também a uma análise de aspectos-chave da obra, como sua forma de memória, sua estrutura fragmentária, a posição de sua voz narrativa e a constituição de seu enredo. Assim, associa-se a maneira como Chico figura literariamente o impacto do golpe de 1964 (e sobretudo da repressão pós-1969) a um trabalho de luto que, todavia, o próprio autor demonstra ser difícil de levar a cabo. Não obstante, partindo da comparação com outros romances importantes da tradição literária brasileira, procura-se demonstrar como Leite Derramado vincula o narrador-protagonista Eulálio, sua família e a própria ditadura, a um certo tipo de violência patriarcal e escravocrata que permeia nossa sociedade desde suas origens coloniais. Com isso, o artigo objetiva oferecer elementos para reinterpretar o romance de Chico, repensando o período ditatorial e seus ecos no momento contemporâneo.  

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