artigo

 

FICÇÃO E ALTERIDADE: O GUARANI, DE JOSÉ DE ALENCAR

 

José Osmar de Melo

 

Este ensaio procura demonstrar, mediante a análise das vozes narrativas, que existem dois planos de discurso em O guarani: o do enunciado e o da enunciação. No primeiro, o narrador tenta valorizar o congraçamento entre o português e o indígena, para construir o mito do surgimento do povo brasileiro. No segundo, procuramos mostrar, no entanto, que a narrativa de Alencar oculta outro discurso que, por sua vez, anula a voz do indígena, ao fazer valer, na voz das personagens portuguesas, que representam o colonizador, o preconceito no que diz respeito ao universo simbólico do nativo, por meio da negação de sua língua, religião, costumes, comportamento, dentre outros valores culturais, pois o indígena, na perspectiva do colonizador, não é um ser humano, mas um não ser que precisa, portanto, de aprender a falar a língua do civilizado e a se comportar em conformidade com o cânone cultural europeu. Assim, pode-se observar, por meio da análise literária do romance, que o discurso camuflado do narrador de José de Alencar valoriza nitidamente a cultura eurocêntrica (do colonizador) em detrimento da cultura do nativo (do colonizado).    

em PDF