Apresentação

 

Prezados amigos!

 

Após uma longa noite de quatro anos, acreditamos que, em breve, o sol dissipará essas trevas carregadas de negacionismo e de infâmia por que o Brasil passou nesse período.

Apesar de todas essas vicissitudes, nós, juntamente com diversos pesquisadores, permanecemos firmes e a Lumen et Virtus conseguiu passar incólume e chegamos à edição 35: e lá se vão quatorze anos, espalhando cultura e informação! Agradecemos muito a confiança de todos aqueles colaboradores que partilharam em nossa revista suas pesquisas e esperamos manter a confiança que construímos ao longo desse período.

Sabemos das dificuldades de se lutar contra a praga da desinformação, ainda mais quando está recheada de capital escuso que compra robôs para espalhá-la! Vemos, como nunca, o fato tornando-se mentira, e esta se tornando verdade; e, muitas vezes, não temos nada a fazer senão gritar aos quatro ventos por meio daquilo que nós sabemos bem: buscar rastrear a informação até seu âmago, como realizamos por meio de nossas pesquisas.

Assim, gostaria de apresentar este número abordando um tema muito caro a nosso Grupo de Pesquisas que é o emprego da imagem na construção daquilo que se conhece por verdade. Temos, dessa maneira, um ensaio, em que abordarei o papel da vingança, bem como de seu alcance, ao longo dos séculos, na literatura e na representação imagética.  Por meio de questionamentos, buscarei responder até que ponto se pode ir, quando se trata de vingar-se de alguém, é ela ética e moralmente aceitável? Não seria uma mera reprodução inconsciente da irracionalidade humana formada ao longo da construção da sociedade, uma “espécie de justiça selvagem”, segundo Bacon? Se for justificável, em que medida poderia ser exequível? Buscando responder tais questões, deparamo-nos com os questionamentos de Aristóteles. Além disso, poderíamos nos questionar: qual seria o papel da fotografia no ato de “vingar-se”?

Já o pesquisador Luciano Marra busca revelar a origem do erro de julgamento após a apreensão de imagens divulgadas por canais midiáticos de amplo alcance, a partir da liberdade ontológica da consciência, teoria esquematizada pela fenomenologia francesa, com Sartre e Merleau-Ponty, coadunada com o efeito na produção de estratos sociais por meio da indústria cultural, referência direta a Adorno. Como as imagens são objetos evocativos por artifício, requisitam informações do imaginário de quem as percebe para ganhar sentido e, como também não são eventos naturais, são de ordem mítica, narrativas fictícias onde há uma defasagem informacional entre signo e significado, alcançam induzir a erro.

Temos também o pesquisador canadense John Hu que analisará a Lenda de Zhenhuan por meio dos escritos de Paulo Freire para discutir as persistentes desigualdades em termos de saúde. Com o uso crescente do cinema e televisão na educação médica, tal texto apresenta comentários agudos sobre o classismo e a desigualdade, quebrando uma série de estereótipos, ao enfatizar a vida de personagens escravas, desafiar o estatuto marginalizado e invisibilizado da classe oprimida como personagens humanizadas na representação mediática. Além de uma discussão sobre questões de direitos humanos e deficiência, questiona ainda o objetivo de seguir regras, quando o sistema de regras existente permite a persistência de desigualdades na saúde.

Por sua vez, os pesquisadores José Marvão e Ana Célia Martins tratarão da questão curricular, de modo especial, a oculta, cujo objetivo é trazer à baila uma abordagem teórica acerca do currículo oculto. Buscam-se mostrar conceitos, princípios e concepções culturais, assim como suas diversas formas de apresentação, enfatizando que o currículo oculto está presente no chão da escola, sendo mister sua discussão sobre a temática. Os pesquisadores farão uma abordagem qualitativa da importância do currículo oculto nos processos da aprendizagem formal dos educandos, com foco no respeito às experiências e a diversidade multicultural, visto que influencia de forma direta a formação da identidade e do protagonismo do aluno.

Por fim, as pesquisadoras Josilene Mariz, Solaneres Nascimento e Manuella Bitencourt refletem sobre a contribuição da literatura de autoria feminina na formação de estudantes de Letras a partir da obra Poulet aux Prunes da escritora franco-iraniana Marjane Satrapi. Que é uma biografia centrada em Nasser Ali, um músico iraniano, mas que enfatiza o papel influente das mulheres em sua vida. As personagens femininas moldam a história, desafiando os estereótipos de gênero. A obra também aborda a dinâmica familiar, evidenciando a divisão desigual de tarefas entre homens e mulheres e como isso pode impactar a vida dessas mulheres.  

 

 

Ótima leitura  e saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Jack Brandão

Editor