Apresentação

 

 

Prezados amigos!

 

 

O ano de 2022 promete ser um ano tenso, fruto de quatro anos de uma política calcada em imagens distorcidas da realidade, em que a destruição e a anormalidade tornaram-se regra. Verificou-se, no período, não só a criação de paramundos, como também a manutenção de bolhas virtuais que se expandiram e pioraram devido à pandemia que nos assolou nesses dois últimos anos.

Apesar dessa situação de desgoverno, ou melhor, de um governo voltado a uma pequena minoria de brasileiros, convém não esquecer de dois acontecimentos que, de certa maneira, podem ser relacionados com o hoje: o bicentenário da Independência do Brasil e centenário da Semana de Arte Moderna.

Ambos tiveram seu estopim na cidade de São Paulo, sendo que este se tornou um marco da luta, no seio da sociedade brasileira (pelo menos no interior de sua elite mais esclarecida), para que houvesse mudanças na estrutura de nosso fazer artístico, preso a amarras de um academicismo anacrônico e completamente distante da realidade que se via na sociedade de então, cujos reflexos também deveriam ser sentidos em seu campo social, como se buscará, de modo especial, na década seguinte. Aquele, no entanto, não passou de uma tomada de poder das mãos dos portugueses para a elite instalada, há séculos, no país. Essa é a mesma que sempre que viu seus interesses ameaçados, empregou-se de golpes e pseudo-revoluções para manter seu próprio status quo, como se viu na Proclamação da República, no golpe de 1964, no de 2016, ou em um possível ainda nesse 2022!

Esse, portanto, também será o ano em que no país que sempre vislumbrou um grande futuro, nunca pôde concretizá-lo de maneira plena, visto que as amarras dessa mesma elite egoísta fazem questão de mantê-lo preso a padrões de lerdeza em que sempre uns poucos têm tudo, enquanto a grande maioria não tem acesso às benesses sociais...

Enfim... às imagens!

Lembrando a Semana de Arte Moderna, o pesquisador Rodolfo Jonasson aborda a relevância de Tarsila do Amaral no cenário das artes plásticas no Brasil, no movimento de renovação das artes no decurso do Modernismo. Ao mesmo tempo, busca descrever a qualidade singular desta artista na década de 1920 em nosso país e fazer uma análise imagética da obra da artista intitulada A Feira I.

Ainda no campo das imagens, os pesquisadores Gerson Heidrich da Silva, Dayane dos Santos Viana e Juliana Ramos de Souza discorrem, à luz da psicanálise, como a arte dialoga e se expressa por meio dos conteúdos inconscientes do sujeito, revelando-o ou reprimido-o diante do processo de autoconhecimento. Além disso, buscaram analisar como o mecanismo de sublimação dialoga por meio da arte em um processo terapêutico. 

Christiane Meier, por sua vez, apresenta-nos a questão dos missionários europeus, de modo especial os jesuítas, no Japão, bem como questões pertinentes ao Império português e a suas conquistas no Oriente. Indo além, abordará não só sua missão catequética e seu apostolado pela arte pictórica, como também os diversos usos e funções das imagens católicas e seu emprego em terras nipônicas, tanto por religiosos, pelos fiéis, como também pelas autoridades locais.

No campo literário, Victor Hugo de Amorim     tem por intento motivar os debates pertinentes às conexões entre tal fazer artístico e a arte pictórica e seus estudos acerca do simbólico, a partir do diálogo estabelecido entre o romance Avalovara, escrito por Osman Lins (1973), e o quadro Sunset by the Ocean, pintado por Vladimir Kush (2006). Assim, o propósito de seu texto é mostrar a maneira como a linguagem metafórica possibilita tanto a escrita literária dos mitos cosmogônicos, como a criação de metáforas na pintura.

No mesmo âmbito da arte da escrita, o pesquisador José Osmar de Melo busca mostrar a influência de importantes filósofos do século XIX no processo de evolução da poesia de Antero de Quental, cujo pensamento evolui de uma poesia ingênua e romântica, passa por uma fase de poesia revolucionária e engajada e desemboca, finalmente, numa poesia de cunho profundamente pessimista.

No campo das imagens visuais e midiáticas, temos Arthur Luiz Cavalcante de Macêdo, cujo ensaio abordará o papel empregado por Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, em seu canal do Youtube. Como a perspectiva melodramática, presente nesses vídeos, pode ser utilizada de modo a apresentar a direita política brasileira sob um novo imaginário. Para isso, o pesquisador traça seu trajeto metodológico: num primeiro momento, aborda a questão do fenômeno Youtube, bem como de seu algoritmo; depois, apresenta conceitos de Ciência Política e relatos de professores e alunos universitários brasileiros em constantes embates políticos pessoais e institucionais; em seguida, analisa vídeos e aplica conceitos teóricos elencados.

 

 

Ótima leitura  e saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Jack Brandão

Editor