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A NÃO-IMAGEM PICTÓRICA NA ARTE SACRA CRISTÃ

 

Christiane Meier

 

Desde o início do cristianismo, discutiu-se acerca da conveniência das obras plásticas de cunho sacro; muitos foram os entendimentos e também os desentendimentos a respeito. A obra de arte que auxilia a liturgia de qualquer religião pode ser chamada de arte sacra; e, se for coadjuvante da Igreja cristã, será arte sacra cristã. Nela não se nota a vontade ou os sentimentos do artista; tampouco se verificam traços da sociedade e época na qual foi criada. Já a arte religiosa reflete a psique do artista, suas preferências, sua época e sociedade. No âmago da pintura sacra cristã, para o artista produzir um quadro, deve pensá-lo antes de iniciar a sua execução, já que a forma deve seguir a função. É importante também que o pintor determine seu público-alvo; deverá ainda pensar no propósito do encomendante. Isto feito, poderá iniciar sua obra que, segundo a semiologia, abarcará três categorias do olhar: o visível, o legível e o invisível. A semiologia, no entanto, não dá conta de outro fenômeno importante: o visual que é sintoma - não é invisível, pelo contrário, está contido na obra. Fra Angélico em sua Anunciação no Mosteiro de São Marcos, não dá qualquer solução simbólica para o acontecimento, apenas inova ao optar por uma não-imagem. O artista utiliza a parede branca ao fundo da cena e dá um brilho misterioso a ela; nada é explicitado, mas deve ser meditado e apreendido pelo intelecto. Contudo, ele não é o único que produz não-imagens. Antonello da Messina o fará igualmente na sua Anunciação e Cláudio Pastro no seu crucifixo na basílica de Aparecida. 

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