Apresentação

 

Prezados amigos,

 

pouco a pouco nossa Lumen et Virtus conquista seu espaço entre as mais conceituadas revistas interdisciplinares do Brasil. Tal situação é fruto de nossa persistência em oferecer artigos de qualidade tanto de grandes pesquisadores – que já se encontram há anos na estrada –, como também de permitir que os mais novos que ainda têm pouco espaço nos canais mais tradicionais também o tenham.

Afinal, que nos torna interdisciplinares, se não a abertura para a comunicação e inter-relação entre pensamentos diversos e múltiplas disciplinas?

Temos assim, a professora Annateresa Fabris, da Universidade de São Paulo, que nos apresenta um instigante artigo sobre a obra Bomarzo, do argentino Manuel Mujica Láinez, cuja personagem principal, grotesca e desarmônica, é considerada monstruosa por seus contemporâneos. Mas, tal ser multifacetado, replica numa natureza artificial, feita de horror e formosura, a imagem do próprio corpo, aberrante e belo ao mesmo tempo.

O professor Maurício Silva trata da produção ficcional, de modo especial de seus contos, do autor moçambicano Mia Couto, ao analisar a maneira como ele trabalha, em seus textos, questões relacionadas à língua e à linguagem, além de vinculá-las às teorias do pós-colonialismo.

Ainda tratando de temas literários, os professores Álvaro Cardoso Gomes e Luiz Fernando Santoro discorrem sobre a poesia do poeta português Albano Martins, verificando as relações que se estabelecem entre o sujeito lírico e um interlocutor. Isso porque a presença do diálogo, nos poemas, reflete a tendência muito comum ao autor em estabelecer um diálogo da interioridade com a exterioridade, de modo a objetivar, por meio de imagens da natureza, aquilo que compõe o chamado estado anímico.

O professor José Antônio Braga Pereira Júnior analisa a relação do tema morte na narrativa de “Páramo” – considerado uma estranhidade no conjunto da obra de Guimarães Rosa, por ser um dos textos mais autobiográficos do autor e por ser ambientado no espaço urbano de uma cidade estrangeira –, tendo como base as concepões de Levinas em comparação com a teoria de Heidegger.

Considerando a importância da narrativa e de seu compartilhamento para produção do sujeito, da realidade e para a ordenação do laço social, as pesquisadoras Grace Troccoli Vitorino, Marília Romero Campos e Beatriz Costa Barreto pretendem investigar as formas e os impasses da narrativa na contemporaneidade e tomam como objeto de análise o documentário Jogo de Cena (2007) que ressalta a importância da narrativa, seu caráter aberto, polifônico e polissêmico.

No campo imagético, a pesquisadora Aryana Vicente de Sousa reflete os diferentes papéis – políticos, ideológicos, religiosos – que as imagens tiveram no mundo da Antiguidade Oriental e Clássica. Partindo de exemplos concretos, apresenta distintos usos que elas tiveram – e ainda têm – para as sociedades que as produziram. Mostra-nos também como o cristianismo bizantino constrói um discurso sobre as imagens profundamente relacionado às esferas políticas e religiosas que, por séculos, ajudaram a fundamentar as bases ideológicas da chamada civilização cristã.

Em uma linha confluente, a da imagem, temos a pesquiadora Vanessa da Silva Alves que esboça alguns pressupostos acerca dos processos da comunicação humana e de suas implicações. Partindo das formas incipientes da interação comunicativa, tem como objetivo explanar sobre o modo como o homem lida com o poder conferido a quem domina o lógos. Assim, fará um breve percurso para demonstrar a evolução das formas humanas de linguagem corporal, verbal oral, pictórica e escrita, para adentrar no universo de uma das maiores referências no uso da linguagem híbrida que envolve fatores verbo-visuais: as histórias em quadrinhos.

Partindo do pressuposto de que a fruição da obra de arte comumente se inicia pela emoção, ou seja, pelas qualidades das sensações que o contato com a obra suscita no leitor/fruidor, André Luiz Ming Garcia procura verificar essa evolução, a partir das reflexões de Charles Sanders Peirce, empregando exemplos de gêneros artísticos como a pintura, a instalação, a assemblagem e o livro ilustrado, contemplando ainda conceitos como a leitura de imersão e a leitura empática, bem como o poder das cores em transmitir emoções.

As pesquisadoras Luci Mendes de Melo Bonini, Rosália Maria Netto Prados e Débora Bernardi Grandjean Thomsen desenvolveram sua pesquisa sobre signo e sentidos em relação ao sujeito, ser de linguagem que interage com o meio em que está inserido e com o discurso subjacente ao desenho, realizando uma interpretação das linguagens verbal e não-verbal que constituem o texto de um cartão.

Partindo para um relação entre a filosofia e a pedagogia, os pesquisadores Jack Brandão e Sílvio Queiroz Guariniello analisaram o conceito iluminista de autonomia na educação por meio do pensamento pedagógico de Kant, cujo princípio tem por base a utilização da razão universal para identificação e superação da condição de minoridade do indivíduo, além da adaptação do pensamento filosófico e pedagógico do filósofo alemão por Paulo Freire, cujo foco é abordagem da autonomia no sentido social, político e pedagógico.

Mantendo um viés filosófico, os pesquisadores José Marcelo Freitas de Luna, Camila Thaisa Alves Bona e Juliano Bona buscam relacionar a teoria da tradução cultural de Boaventura Santos com a filosofia da diferença de Deleuze, já que acreditam que esta aproximação contribuirá para a sofisticação do ato de interpretar diferentes culturas.

Por fim, os professores José Guilherme de Oliveira Castro e Aida Suellen Galvão Lima promovem uma breve consideração sobre a identidade e o sentimento de pertencimento do imigrante no município de Paragominas no Pará, pois a partir de suas narrativas, pode-se perceber sua necessidade de possuir uma identidade conectada a suas origens que se traduzem em seu esforço cotidiano de perpetuar sua cultura e tradições.

Há muito que estudar, há muito que conhecer, para que os erros do passado não se repitam e, caso ocorram – como os que estamos vivenciando –, não se mantenham por muito tempo, pois apenas a luz do saber leva-nos à libertação.

 

Saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Antônio Jackson de Souza Brandão

                    Editor