Apresentação

 

Prezados amigos,

 

para nós é uma grande satisfação apresentar nosso vigésimo número! Brindamos, neste número, nossos leitores não apenas com artigos de excelente qualidade, como também de diferentes áreas, demonstrando nosso caráter interdisciplinar.

Dessa maneira, iniciamos com o texto dos pesquisadores Gerson Heidrich da silva e Jainne Soares que nos apresentam uma leitura psicanalítica da obra A Alma Imoral: Traição e Tradição Através dos Tempos, de Nilton Bonder, a partir da noção de desejo para a psicanálise. O livro foi adaptado e levado ao teatro por Clarice Niskier, tornando-se um espetáculo que é sucesso de público há mais de dez anos, fato que despertou o interesse de refletir sobre a traição como algo inerente à condição humana, mesmo, e talvez principalmente, em uma sociedade monogâmica.

Em seguida, Thierri Vieira dos Santos nos apresenta o hiper-realismo de Harold Pinter, em cuja obra se verifica uma forte influência de matrizes ligadas ao drama burguês e ao Realismo, apesar de o autor ser, constantemente, associado ao Teatro do Absurdo e a sua estética. A abordagem do pesquisador se dará na análise das técnicas realistas da obra The Homecoming.

Adentrando na mídia televisiva, Isabelle Rodrigues de Mattos Costa apresenta-nos a figura da bruxa que nos aparece hoje não mais de uma forma caricata, mas como metáfora para a mulher assertiva, sendo, portanto, empregada como símbolo adotado pelas feministas. Assim, não parece incoerente esperar que programas de televisão que protagonizam bruxas, como Charmed, as representem como mulheres poderosas que não se submetem a homem algum.

Ainda abordando a questão feminina, temos as professoras Marília Gomes Ghizzo Godoy e Mônica Salles da Silva que nos apresentam o universo mítico guarani mbya e suas práticas culturais, como o xamanismo feminino. Este preenche iniciativas que atualizam os tradicionais sentidos do messianismo e do profetismo, por isso a mulher xamã compromete-se na ordem sagrada sendo indispensável à realização mística cultural.

Já as pesquisadoras Eunice Prudenciano de Souza e Natália Tano Portela consideram as peculiaridades da escrita de autoria feminina, baseando-nos no princípio do iceberg, de Ernest Hemingway, e nas teses sobre o conto, de Ricardo Piglia, ao abordarem a condição da mulher e sua relação com o homem no conto “Transa”, de Alciene Ribeiro. Apesar de parecer que o conto trata de uma mulher liberta, “dona do próprio nariz e do meio das suas pernas”, é possível encontrar, no discurso, marcas que denotam a submissão da mulher em relação ao homem.

Adentrando nos movimentos undergrounds, o pesquisador Geraldo Gomes Brandão Júnior não só discute o movimento punk no Brasil e sua relação com movimentos anteriores, como o Existencialismo ou a Geração Beat, como também trata da simplicidade na elaboração de muitos textos de bandas brasileiras nos anos 70/80, bem como seus possíveis pontos de contato entre este movimento e alguns vanguardistas, como o Dadaísmo.

Por fim, o professor Carlos Eduardo de Araújo Plácido nos apresenta a autora irlandesa Nuala Ní Chonchúir que, apesar de pouco conhecida do público leitor brasileiro, é uma poetisa e contista premiada em seu país de origem. Seu primeiro romance You (2010) acompanha a qualidade literária de seus poemas e contos, trazendo ao leitor contemporâneo um olhar diferente para uma Irlanda ainda pobre, mas esperançosa de 1980. Período, por sinal, marcado por diversos questionamentos acerca da definição da palavra pobreza: que é ser pobre em um mundo que começa a se conectar, onde o acesso à informação se torna mais fácil, barato e ágil e as necessidades das pessoas vão ganhando novos contornos, embora poucos tenham acesso?

Esperamos com isso que todos tenham suas esperanças renovadas nesse 2018 que se aproxima. Que o Ano Novo possa nos trazer alento diante do caos iminente que toma conta de nossa sociedade.

 

 

Saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Antônio Jackson de Souza Brandão

                    Editor