Apresentação

 

Prezados amigos!

 

Tempos de nebulosidade e de incertezas pairam sobre o Brasil, de modo especial sobre as conquistas da sociedade brasileira adquiridas, a duras penas, desde o Golpe de 1964.

Verifica-se hoje, mais uma vez, como a história se repete com uma desfaçatez insana, procurando encobrir verdades e escancarar inverdades como se fossem fatos, não meros factoides, e cujo papel preponderante cabe, mais uma vez, à imagem.

Emprega-se para isso de uma das melhores armas de que dispõem: a efígie da legalidade, pseudolegalidade, afinal quem tem o poder da imagem e da mídia faz o que quer em um país repleto de analfabetos funcionais como o nosso e, pior que isso, que se creem grandes entendedores do mundo que os cerca!

Há apenas três anos, via-se a esperança e a alegria estampadas nos olhos dos brasileiros que se consideravam, segundo uma pesquisa do Gallup Institut, como um dos povos mais felizes e otimistas do mundo, além de ter a líderar, entre diversos países, no quesito "confiança no futuro"... Isso por oito anos seguidos, afinal o país que sempre foi periférico, tornou-se destaque mundial, enchendo-nos de orgulho e amor próprio!

No entanto, como num passe de mágica ou como numa punição divina, o pacto social, não firmado e oriundo da Era Lula, entre as diversas camadas da sociedade brasileira foi sendo corroído aos poucos a ponto de ruir, completamente, nas eleições presidenciais de 2014: a máscara e o velame que cobriam parte de nossa sociedade caíram: os velhos lobos saíram da toca e começaram a uivar, reclamando o espaço perdido!

Sequer completaram-se cinco anos, quando da instalação da Comissão da Verdade, em que o país procurava entender uma de suas grandes feridas, que foi o golpe de 1964, pondo a descoberto estigmas que teimavam em não cicatrizar. De repente, os tiranos de ontem passaram a ser exaltados como heróis de hoje! Se antes altares eram-lhes erguidos na calada da noite, às escuras; esses foram levados para as ruas, de forma aberta, descarada!

O ódio social, antes velado, envergonhado, aflorou com um ímpeto devastador!

Rompera-se, por completo, o pacto: nosso povo não será mais o mesmo... Os velhos lobos que há tempos hibernavam sabem, exatamente, por onde começar a atacar para saciar sua fome e sede, apenas na aparência, suprimidas: na escola, na cultura, nos direitos... bem como de que meios necessitam para lograr êxito: bastam imagens maciçamente empregadas, inverdades ditas milhares de vezes, sempre se transformarão em verdades, como já dissera Adolf Hitler em Mein Kampf.

Os professores, de heróis no passado, tornaram-se os bandidos no presente! Se não querem o sacerdócio, se não querem se manter como dóceis ovelhas, políticos é que não podem ser, muito menos falar, opinar, citar algo acerca do tema! Como se fosse possível separar o homem social dela! Não foi Aristóteles, há mais de dois milênios, que disse que o homem é um animal político?

Muitos acreditaram na voz da presidente (inclusive ela mesma!) que dizia, repetidas vezes, que vivíamos em uma “democracia pujante”! É lamentável que ela não tenha lido as imagens que empregaram não só para desconstruí-la, como também a todo o projeto de inclusão construído ao longo de doze anos! Assim como Ebert na Alemanha de Weimar, ou mesmo Jango às vésperas do Golpe, os traídos tornam-se de tal maneira cegos a ponto de não enxergar que o perigo pode estar dentro de casa!

Pena é constatar que para se construir uma cidade leva-se muito menos tempo do que para reconstruí-la após um cataclisma, como um tornado. Para este, bastam apenas poucos minutos para que tudo o que estiver em seu caminho torne-se um mero rastro, um indício de todo seu poder de destruição...

Enquanto educadores, temos de acreditar em um futuro melhor. Temos de acreditar que é possível levar o outro à reflexão, ao pensamento crítico, afinal não é apenas o indivíduo que ganha, mas toda a sociedade de onde ele proveio! Se não for possível agir assim, que todos saiam pela porta de trás e que o último apague, pelo menos, a luz... depois não adianta reclamar...

Algo demonstrado, de certa maneira, pelos pesquisadores Paulo Fernando de Souza Campos e Rose Mary Ferreira de Souza que, ao relatarem a vida de Padre Jorge Mattar nos anos 1940 e 1950, demonstraram que um dos principais objetivos de seu sacerdócio era a alfabetização da população de Iacanga, no interior de São Paulo, contribuindo não só para a formação educacional de seus habitantes, como também para seu desenvolvimento.

Examinando a questão da “neutralidade escolar” frente à realidade que se impõe, a professora Dorotéa Bittencourt Dias nos mostra que esse tipo de discurso só é possível para aqueles que não possuem alguma relação, ou mesmo conhecimento, com o ato de educar. A pesquisadora diz ainda que, se isso ocorre, é porque existe uma constante desvalorização do magistério, já que ainda há uma parcela considerável da sociedade que acredita que o ato de ensinar não passa de uma simples tarefa mecânica de transmissão de conteúdos. E, como não tem, conhecimento das exigências da prática docente no cotidiano da escola, não percebe que os conteúdos escolares são sempre vinculados a questões políticas, econômicas e culturais; logo, nunca poderão ser neutros.

Ainda no campo da educação, a professora Daniela Buttler discute o papel da escrita na sociedade moderna, partindo de seus primórdios, das tecnologias e suportes utilizados, para se chegar à contemporaneidade, propondo reflexões sobre o papel da sociedade no desenvolvimento de práticas de leitura.

Para as pesquisadoras Josilene Pinheiro-Mariz e Jéssica Rodrigues Florêncio, cujo enfoque será o trabalho do professor de línguas estrangeiras, seu papel deve ser o de uma constante busca por caminhos que conduzam à formação do aprendiz, sobretudo quando se trata do ensino infantil. Por esse prisma, procuram ressaltar a importância da literatura nesse contexto e, de modo especial, a africana, para que possa ser instrumento  tanto do desenvolvimento linguístico, quanto do cultural.

Voltando ao campo da questão política, os pesquisadores Luiz Antônio Dias e Rafael Lopes de Sousa tecem algumas considerações sobre as eleições presidenciais de 1989, aguardadas com ansiedade e que deveriam coroar o processo de redemocratização do Brasil. No entanto, a eleição de Fernando Collor de Mello e, principalmente, de seu governo marcado pela instabilidade econômica e política e seu afastamento, em 1992, deixaram uma forte sensação de frustração. Ainda tratando dessa questão, ambos analisam as mobilizações pelo impeachment, buscando compreender as razões que moveram empresários, mídia, estudantes nesse processo.

Já no campo da imagem e de seu emprego como instrumento intimidatório e coercitivo, o pesquisador Jack Brandão demonstra que tal expediente não é algo novo, pois possui uma tradição de milênios. Isso pressupõe que sua instrumentalização já é bem conhecida. Assim, toda imagem deve ser lida como uma demonstração intencional de força e de poder, não como uma mera cópia inintencional do mundo exterior.

ainda muito mais!

Esperamos que todos possam apreciar estas páginas dedicadas à pesquisa e à disseminação cultural, confiando que possamos vislumbrar em nosso grande Brasil, num horizonte próximo, um novo sol que possa dissipar as névoas que insistem em cobri-lo de trevas!

 

 

Saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Antônio Jackson de Souza Brandão

                    Editor