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“MORTO NO COLO DA CRIANÇA”: PRINCÍPIO DE DELICADEZA, LUTO E A POESIA DE EUCANAÃ FERRAZ

 

Marcelo Reis de Mello   

 

Este artigo investiga a constante tensão entre presença e ausência na poesia de Eucanaã Ferraz, sobretudo a partir do princípio de delicadeza defendido por Roland Barthes no livro O Neutro. Morte e luto são analisados também em textos de Sigmund Freud e Georges Didi-Huberman, por onde é possível reconhecer traços da diaforologia barthesiana, traduzível como uma “ciência das sutilezas”. Não obstante, alguns aspectos da poesia e da fortuna crítica a respeito da obra de Eucanaã Ferraz são problematizados, para que se reconheça em cada momento particular a margem entre a presença da delicadeza (para Barthes: a perversão sutil no interior da língua) e os signos de um discurso arrogante ou meramente ornamentais. Por fim, defende-se que a delicadeza é o próprio fundamento da poesia, na medida em que constitui – como afirma Daniel Link – uma ética preocupada com a comunidade dos ausentes.